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A mostrar mensagens de fevereiro, 2019

Fogo Fátuo

Tenho fogo fátuo no peito E um corpo de papel a amarrotar Mil razões que me prendem ao leito E um mar na garganta a quebrar À margem da tua pele um caminho Nas mãos o desejo de entrar Num copo a promessa de um sonho No fundo a dor de voltar a acordar f.c., 2015/2016

10min no teu peito

Falo-te com força, sem travão Nunca me habituei que me dançassem no coração Peço-te desculpa, uma e outra vez Desbravo-te o amuo, silvado denso de adultez Amo-te neste zapping de coração Nunca me habituei a que se habituassem tão bem a mim Peço-te o peito e mais 10 minutos para lá dormir Não é que me faltem razões Não é que me faltem cantigas É que não vejo mais onde pudesse ir Falo-te com força, aperto-te na minha mão Afogo-te no espaço que há no meu abraço O mais apertado que conseguiria eu dar Se o meu amor não for o que te sufoque Que sejam os meus braços a roubar-te o ar f.c., 2019

Coisas Pequenas (Título provisório)

Saí vivo do lugar do morto Desembrulho a sombra, E dou-me ao teu encontro Se morrer é um castigo Que se chama a viver-se assim? Fumo-te num beijo aceso Colhemos todas as beatas do chão Dás-me num abraço o abrigo Eu dou o teu nome a uma canção Saí como fêmea alfa do covil Risco o passado a grafite, Em raiva num tom juvenil Quem me dera esvaziar-me o sótão Deixar aos outros a arte de pensar Vejo-lhes sorrisos na cara Tremor, como quem quer dizer "Pior fome é a que mata, Quem fica ao longe a ver comer" f.c., entre 2016 e 2017

Rascunho #11 (Enxoval)

O mundo é torto à ponta do meu nariz E o horizonte desenha-se à sola dos meus pés Vivo os dias que se encavalitam no seguinte Com a pressa de quem não teme o revés Derretemos à chama da nossa fala E despimo-nos como que parindo um enxoval Abrigamo-nos do mundo à chuva O inverno nunca nos pareceu muito mal f.c., 2016

Zebras

Procuro mais zebras que cavalos Calma tangente entre avassalos Caça furtiva e pés em riste Triste do competente que desiste Ouço entre os dentes sussuros meus Prego aos pecadores, a Deus, e aos ateus Num mundo de crentes, que é feito de nós? Roubemos os filhos dos outros para sermos avós Falta-nos o chão tanto quanto perdemos a estrada Menos mal que nos habituamos a cair e a dormir à entrada f.c., 2016

Imperatriz

Beco feito em vã muralha Costas voltadas à saída Vê-se arder em lume brando Silêncio de mulher traída Fez-se ao longe por fazer Rapaz rasgado, Homem à pressa Que hiperboliza o eufemismo Nem cumpre os crimes que confessa Escravo de uma vontade cega De ser outrém, ser mais vazio Aberto às espadas de quem olha E apedreja o corpo deste rio Hasteia-se que nem bandeira De um império qualquer sem imperador algum Cercado a paredes com quem partilha a dor O caminho é sempre certo se o destino é nenhum Aperalta-se tal que macho alfa E chove a potes que nem menina (sabe que Homem de barba na benta não chora, Só se tranveste e tapa a voz com surdina) Sabe que a noite corre que nem criança E a coisa do amor é manta fina Abre a janela sem se dar à varanda Estende seu horizonte dos olhos ao pés da cama Fecha-se a 6 chaves, guarda uma por precaução Dá-se nem que expulso de si próprio A quem lhe arrancou o mar arenoso da mão f.c., 2017

Dor Fantasma

Dor Fantasma Ainda me dóis como membro fantasma Ainda te sinto como se estivesses aqui Ainda faço incêndios das beatas E sento, no centro, a vê-los espalhar Ainda guardo o mundo debaixo do meu chapéu Ainda falho o alvo quando forço o tentar Ainda me escondo quando a chuva me bate E ainda fico a ver o monstro tentar entrar Ainda escrevo a cinzento meus sonhos Com medo de os eternizar Ainda carrego a nuvem chuvosa às costas Ainda teimo em precipitar Ainda construo pontes, de olhos pelo ombro E sei que constróis as tuas de olhos em frente Ainda penso que não valem de nada Se as construímos em rios diferentes f,c., algures por 2017/18