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Cisma/Fetiche

Penteia o cabelo para trás E olha-me pelas costas Efeminado machismo Sinestesia num sismo Anestesia que cismo em pedir Sou um anfíbio, Vê-me comer as moscas Dos cadáveres que insisto embelezar Minto-lhes ressurreição, falta-me decisão Passo a passo, impasse a impasse Chego Bem perto de ser FC,  2019

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Como se a desculpa me limpasse a merda Peço-ta outra vez E a mão E neste impasse de quem não sabe marcar golo Empatamos este amar Zero a zero num boicote a ganhar Como se a desculpa te trouxesse a calma Peço-te paciência E a desculpa E neste passar para o outro lado (no escuro) Desisto do meu ontem E me ganhas num futuro qualquer que ri Como se a desculpa te esquecesse de quem fui Peço-te a mão e o peito E deito E nesse estar (só estar) Sou-te E bem mais do que só f.c., 2019

Horas Despidas

Despi o nosso tempo de horas E cobri o nosso berço de nós Somos algo mais do que somos sós Não temos guia e o dia dura Nem que seja por dois ou três Conheçamo-nos uma e outra vez Deixa-me ser-te da pele Fazê-la meu céu e meu chão Embala-me dos sons do mundo No colo da tua mão f.c., 2016/2017

Fogo Fátuo

Tenho fogo fátuo no peito E um corpo de papel a amarrotar Mil razões que me prendem ao leito E um mar na garganta a quebrar À margem da tua pele um caminho Nas mãos o desejo de entrar Num copo a promessa de um sonho No fundo a dor de voltar a acordar f.c., 2015/2016

10min no teu peito

Falo-te com força, sem travão Nunca me habituei que me dançassem no coração Peço-te desculpa, uma e outra vez Desbravo-te o amuo, silvado denso de adultez Amo-te neste zapping de coração Nunca me habituei a que se habituassem tão bem a mim Peço-te o peito e mais 10 minutos para lá dormir Não é que me faltem razões Não é que me faltem cantigas É que não vejo mais onde pudesse ir Falo-te com força, aperto-te na minha mão Afogo-te no espaço que há no meu abraço O mais apertado que conseguiria eu dar Se o meu amor não for o que te sufoque Que sejam os meus braços a roubar-te o ar f.c., 2019

Coisas Pequenas (Título provisório)

Saí vivo do lugar do morto Desembrulho a sombra, E dou-me ao teu encontro Se morrer é um castigo Que se chama a viver-se assim? Fumo-te num beijo aceso Colhemos todas as beatas do chão Dás-me num abraço o abrigo Eu dou o teu nome a uma canção Saí como fêmea alfa do covil Risco o passado a grafite, Em raiva num tom juvenil Quem me dera esvaziar-me o sótão Deixar aos outros a arte de pensar Vejo-lhes sorrisos na cara Tremor, como quem quer dizer "Pior fome é a que mata, Quem fica ao longe a ver comer" f.c., entre 2016 e 2017

Rascunho #11 (Enxoval)

O mundo é torto à ponta do meu nariz E o horizonte desenha-se à sola dos meus pés Vivo os dias que se encavalitam no seguinte Com a pressa de quem não teme o revés Derretemos à chama da nossa fala E despimo-nos como que parindo um enxoval Abrigamo-nos do mundo à chuva O inverno nunca nos pareceu muito mal f.c., 2016